
Mentiras sobre as mulheres na liderança ainda são perpetuadas em muitos ambientes profissionais. Vamos desconstruir três delas e refletir sobre a verdade por trás desses mitos.
Não é pegadinha do Primeiro de Abril. As três frases, a seguir, são vieses falaciosos que muitos profissionais ainda reproduzem por aí:
1. Mulheres na liderança não promovem outras mulheres
Um estudo com 1.500 empresas, publicado no Strategic Management Journal, em 2015, revelou que, quando uma mulher alcança um cargo sênior, uma segunda mulher tem 51% menos chance de conseguir crescer na empresa.
Ahhh, a eterna rivalidade feminina? Não! De acordo com a pesquisa, quem desacelera a ascensão das outras profissionais não é a gestora que chegou lá, mas o gestor dela (um diretor executivo), provavelmente, julgando que um exemplar feminino é o suficiente para garantir a imagem de empresa diversa.
Outro estudo, conduzido pela consultoria DDI World, revelou que 73% dos mentores das mulheres, nas organizações, são outras mulheres. Euzinha tenho a honra de ter impulsionado várias delas a atuarem como verdadeiras patrocinadoras das lideradas.
Logo… Esqueça a bruxa sênior e a princesa júnior dos contos infantis, e let it go a crença na inveja feminina como causa da desigualdade de gênero.
Para refletir…
- A quem interessa a competição entre as mulheres?
- Como é a relação entre as mulheres na minha empresa, comunidade, mercado?
- Como posso contribuir para uma cultura de apoio (sororidade) a outras mulheres?
2. A culpa por não ter mais mulheres na alta liderança é da área de atuação que elas escolhem.
É tão fácil quanto raso culpar a “vocação” para áreas que, dificilmente, conduzem a uma posição de Diretoria, como Recursos Humanos ou Marketing.
Antes, precisamos parar de atribuir, à Biologia, o que é da Cultura.
Na primeira infância, meninos e meninas não têm preferências por atividades ditas de Humanas ou Exatas, mas, a partir dos 5 anos, as meninas são encorajadas a preferir Linguagem e Artes.
Adiante, os obstáculos aumentam. Em grande parte das empresas, faltam ações afirmativas para as profissionais que querem ser mães, e ninguém mete a colher, no sentido de estimular os colaboradores pais a partilharem do cuidado dos filhos e da casa.
Para refletir…
- Como a empresa em que eu trabalho pode diminuir a desigualdade de gênero?
- Como o meu produto ou serviço empodera as mulheres?
3. Mulheres são promovidas a líderes quando a empresa está bem.
Ao contrário! Já ouviu falar no fenômeno Penhasco de Vidro? É uma tendência observada pelos professores de psicologia Michelle Ryan e Alex Haslam, segundo a qual as mulheres são mais frequentemente promovidas a posições de liderança, justamente em tempos desafiadores.
Algumas possíveis motivações para tamanho altruísmo (contém ironia):
Sinalizar para o mercado uma disposição para inovar;
Culpar a pouca experiência feminina pelos resultados ruins;
Elas reivindicam menos garantias, quando assumem uma empresa em crise.
Quanto às mulheres, é mais provável que aceitem posições de liderança, em meio à turbulência, porque têm menos oportunidades de ascender, em tempos de calmaria. Elas sentem que não podem se dar o luxo de esperar por uma posição mais confortável.
Sally Helgesen, coach de líderes e autora de Como as Mulheres Chegam ao Topo, acrescenta que as mulheres tendem a valorizar mais o emprego que a carreira, demonstrando fidelidade excessiva à empresa, e deixando de ver a trajetória como um grande quadro, o que, não raro, atrasa as decisões estratégicas e, por tabela, o avanço profissional.
Para refletir…
- Você já se sentiu obrigada a provar a sua competência, mesmo depois de muita experiência em determinada função?
- Como as empresas em que você trabalhou/trabalha reagem aos erros?
O intuito deste texto é propor um questionamento a tudo o que parece verdade, apenas por ter sido dito mil vezes. Ou até vivenciado, mas na esfera individual. Consultemos a nossa Fada Azul interior, e também, as fontes sérias de pesquisa.
Afinal, a verdade irrita, mas, depois, ela liberta.