
Levante a mão quem não aguenta mais os discursos pra lá de ultrapassados sobre liderança feminina!
Algo como: “nossas líderes são uma benção porque são sensíveis com seus liderados, a liderança feminina é pacífica, mulheres sabem lidar melhor com as pessoas e talvez, a pior de todas, elas cuidam da equipe como cuidam dos filhos”.
Quanto mais o mercado de trabalho expande e muda, mais rótulos como estes são carimbados em nós, como uma alternativa desesperada de impedir o avanço natural.
Homens e mulheres têm sim características comportamentais diferentes. As atividades atribuídas a cada um fizeram com que habilidades distintas fossem treinadas, e não há nada de errado nisso.
Lá na era das cavernas, enquanto eles saíam para caça, elas ficavam cuidando dos filhos, da casa, de olho para que não roubassem o estoque de comida e até fazendo a ‘política da boa vizinhança” com as tribos vizinhas.
Se o instinto dos homens os levava a batalha e a disputa, o delas se concentrava em se comunicar melhor, em observar, em serem mais cuidadosas com suas relações.
Por aí nós podemos entender que somos multitarefas e multipotenciais desde sempre. Ter mais de um talento nato faz parte do ser mulher, é disso que somos feitas. Não porque somos seres iluminadas e especiais, simplesmente precisamos ser assim, no passado, no agora e ouso dizer que será sempre assim.
Dizem por aí que uma hora as coisas se integram e passam a fazer mais sentido. Hoje, quando nos deparamos com qualquer pesquisa sobre o mercado corporativo e as competências que farão a diferença para contratações ou cargos de alto escalão, estão lá, em letras garrafais: inteligência emocional, resiliência, flexibilidade, comunicação, capacidade de negociação, ‘hands-on’ (mão na massa).
Isso talvez te faça lembrar sobre as tarefas desenvolvidas na época das cavernas que eu citei a pouco, ou com o seu final de semana em casa com crianças em pleno isolamento social.
O avanço feminino para os cargos de liderança, não é mera coincidência. Nós estamos sim mais bem preparadas, naturalmente capacitadas pela melhor escola de todas: a vida.
A vida nos treinou
Durante a década de 90, um contexto de imprevisibilidade e confusão tomou conta do mercado macroeconômico, e um termo passou a ser usado para definir este cenário, o VUCA.
A palavra em inglês é composta dos seguintes itens:
V – volatily/volatilidade, U – uncertainly/incerteza, C – complexity/complexidade e A – ambiguity/ambiguidade.
Com a pandemia e todo cenário caótico e instável vivido em 2020 e 2021, observou-se que o VUCA estava obsoleto, dando lugar ao mundo BANI.
B – brittle/frágil, A – anxious/ansiedade, N – nonlinear/não linear e I – Incomprehensible/imcompreensível.
Enquanto o planeta pira com o BANI, nós mulheres o entendemos como ninguém. Trajetória incompreensível, ansiosa, frágil e não linear?!
Talvez isso tudo assuste antropólogos e estudiosos, mas a mim parece um bate-papo entre amigas contando sobre maternidade, casamentos e divórcios, criação de filhos, TPM, relacionamentos abusivos, estudar de madrugada enquanto amamenta e mais tantos e tantos exemplos que compõem a vida da mulher comum, de todas nós.
A carreira das mulheres sempre foi BANI, se a liderança feminina tivesse uma camiseta padrão, o logo do BANI estaria lá, ‘Bani Friends Forever’.
Mas muito me alegra saber que vamos de “banidas” às mais naturalmente adaptadas ao incompreensível mundo corporativo.
De banidas à adaptadas
Compreender todo o movimento do mercado de trabalho, suas necessidades e expectativas, mesmo que sejam não lineares e incompreensíveis, nos ajuda a perceber qual deve ser o nosso posicionamento perante o que nos é apresentado.
Não cabe aqui apequenar-se, se esconder dos novos projetos e das promoções que virão ou já bateram a nossa porta.
Finalmente a mulher tem em mãos vantagens palpáveis, argumentos sólidos que a colocam num outro patamar, só que eles precisam ser contextualizados. E nós também somos boas nisso.
Muitas de nós, as que já chegaram lá, as que já alcançaram cargos muito almejados, precisaram provar sua capacidade todos os dias.
Por que quem busca seu lugar ao sol não pode salientar suas habilidades ou desenhar se for preciso, para que mais diretores e gestores também assimilem e deem mais espaço para que cada vez mais mulheres criem e liderem?
A caixa de presentes está a nossa frente, linda e embalada. Nos resta a decisão de abri-la e usar o presente, ou deixar fechado e dar para alguém. Você vai abrir o laço?